A 1ª Conferência Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (CNATER) foi realizada nos últimos
dias 23 e 26 de abril, em Brasília. A conferência reuniu envolveu
trabalhadores rurais, povos tradicionais, organizações governamentais e
não governamentais, entre outros atores sociais na reafirmação da
importância da ATER de qualidade. Abaixo, a carta política da CNATER.
Confira.
DECLARAÇÃO POLÍTICA DA 1ª CONFERÊNCIA NACIONALDE ASSI STÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL
Nós, delegados/as da 1ª Conferência Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural - CNATER, que envolveu no processo de preparação mais de
40 mil participantes em conferências municipais, intermunicipais,
territoriais, estaduais, setoriais e temáticas reunidos em Brasília
entre os dias 23 e 26 de abril de 2012, reafirmamos a importância
estratégica da ATER pública, de qualidade, gratuita e continuada,
executada por instituições estatais e não estatais, para a construção do
desenvolvimento rural sustentável e solidário tendo como protagonistas
trabalhadores/as rurais, camponeses/as, acampados/as, assentados/as da
reforma agrária, povos indígenas, povos de terreiro e ciganos/as,
quilombolas, açorianos/as, atingidos/as por barragens mineradoras e
hidrelétricas, extrativistas, seringueiros/as, quebradeiras de coco,
fundos de pasto, faxinalenses, pescadores/as artesanais, ribeirinhos/as,
aquicultores/as familiares, caiçaras, marisqueiros/as,
retireiros/as, torrãozeiros/as, geraizeiros/as, vazanteiros/as,
pomeranos/as, pantaneiros/as, caatingueiros/as, dentre outros/as
segmentos citados e contemplados na PNATER, assim como as organizações
que os representam.
O modelo de desenvolvimento com o qual nos comprometemos, tem como
fundamentos o ordenamento fundiário com a realização de uma ampla e
massiva reforma agrária e a garantia dos direitos territoriais, defesa e
conservação dos recursos naturais e bens comuns, o fim das
desigualdades, a soberania e segurança alimentar e nutricional, o
fortalecimento da produção familiar e comunitária livre de agrotóxicos e
transgênicos, bem como o cooperativismo solidário como estratégias de
inclusão política, social, produtiva e econômica e ampliação do mercado
interno do País. A política de Assistência Técnica e Extensão Rural
tendo como princípios a agroecologia, o diálogo entre os saberes
tradicionais e científicos, a abordagem territorial, considerando as
especificidades de cada bioma e as diferentes identidades territoriais, é
um instrumento estratégico e essencial para o acesso às políticas
públicas no meio rural, a organização produtiva e econômica, e a
implantação e consolidação do novo desenvolvimento rural sustentável, e
deve ser fortalecida e consolidada.
Reconhecemos os avanços no processo de reestruturação da Ater pública,
iniciado em 2003, com a institucionalização da Política e do Programa
por meio da Lei Nº 12.188/2010, a construção de diretrizes, e o aumento
de recursos financeiros e orçamentários. No entanto, é necessário
enfrentar e superar os seguintes desafios:
1. Qualificar e ampliar a oferta de serviços de ATER, na perspectiva da sua universalização;
2. Construir um sistema nacional de ATER integrando as esferas atuantes
neste serviço no governo federal, nos governos estaduais e municipais e
incluindo as entidades não governamentais de ATER, as organizações da
sociedade civil e os movimentos sociais;
3. Articular as esferas estatais federal, estaduais e municipais e as
organizações da sociedade civil, assegurando nas suas especificidades
condições igualitárias de acesso aos recursos e de prestação de serviço
de qualidade;
4. Estruturar o MDA e o INCRA para que possam responder às crescentes demandas de expansão
da ATER, evitando a interrupção dos serviços e a instabilidade nas
entidades prestadoras de serviços, bem como fortalecer o CONDRAF e seus
comitês permanentes, garantindo as condições para a plena efetivação da
PNATER ;
5. Garantir recursos financeiros e orçamentários suficientes para a
universalização e boa qualidade dos serviços, sem cortes e
contingenciamentos que desestabilizam a execução dos serviços e a
implementação da Política;
6. Garantir a formação continuada dos profissionais de ATER nos
princípios, práticas e métodos da agroecologia, garantindo a expansão de
uma ATER de qualidade centrada na promoção do desenvolvimento rural
sustentável;
7. Universalizar a ATER priorizando estratégias de inclusão para os
povos indígenas, as comunidades quilombolas e os povos e comunidades
tradicionais ainda hoje à margem deste serviço;
8. Garantir que a ATER reconheça o papel e importância das mulheres no
desenvolvimento rural, por meio da promoção da autonomia econômica na
gestão, na produção e na comercialização fortalecendo sua cidadania, seu
processo organizativo e o seu protagonismo;
9. Estabelecer estratégias de atuação que propiciem o acesso às
políticas públicas para a juventude do campo, respeitando suas
especificidades, garantido a sua inclusão nas dinâmicas sociais,
culturais e organizativas de produção, agregação de valor,
comercialização, formação e educação contextualizada como forma de
garantir a sua permanência no meio rural e a sucessão na agricultura
familiar;
10. Ampliar e fortalecer os serviços de ATER que promovam o
desenvolvimento sustentável dos assentamentos da Reforma Agrária tendo
como referência os princípios da agroecologia orientado para a inclusão
social e produtiva e a segurança e soberania alimentar e nutricional;
11. Articular as ações e recursos do programa Brasil Sem Miséria a
outras políticas, de modo a integrar os setores mais pobres a processos
de desenvolvimento local, comunitário ou territorial envolvendo os
setores sociais mais dinâmicos e organizados;
12. Aperfeiçoar os processos de identificação das demandas, de
formulação das chamadas de ATER e planejamento de ações a partir das
realidades locais, assegurando o protagonismo das entidades
representativas do público da PNATER, de modo a viabilizar o uso das
metodologias participativas e das práticas da agroecologia, definidas
como princípios orientadores da PNATER;
13. Propiciar que a ATER contemple a sociodiversidade com metodologias,
projetos e formação que considere os públicos do campo, da floresta e
da água;
14. Estabelecer ações multidisciplinares para os povos indígenas,
quilombolas, povos e comunidades tradicionais, buscando valorizar o
conhecimento popular existente e o respeito a sua autonomia e a
preservação de suas culturas, valores e tradições;
15. Ampliar e fortalecer o serviço de ATER que promova o
desenvolvimento sustentável, propiciando o acesso a uma ATER
diferenciada e adequada para as populações indígenas, quilombolas e
demais povos e comunidades tradicionais, garantindo uma abordagem que
considere sua diversidade cultural, contribuindo para preservação das
tradições e promovendo o etnodesenvolvimento;
16. Reconhecer e fortalecer o cooperativismo solidário como instrumento
de organização econômica da agricultura familiar, assentados/as da
reforma agrária, povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades
tradicionais e demais segmentos citados e contemplados na PNATER;
17. Assegurar que a Conferência Nacional de ATER seja realizada a cada
quatro anos com a finalidade de avaliar as diretrizes da PNATER e
deliberar sobre a implementação da política, garantindo que tais
deliberações sejam acolhidas no Plano Plurianual subseqüente. Nós,
participantes da 1a Conferência Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural, conclamamos o governo federal, os governos estaduais e
municipais, o congresso nacional e a sociedade a responder positivamente
e com urgência a estas demandas, para que a ATER possa cumprir com
eficiência o seu papel estratégico na construção do Brasil que queremos:
um país rico e sem pobreza.
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